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sexta-feira, 22 de maio de 2020

Vila rica de ouro preto, homenagem à Inconfidente Bárbara Eliodora Guilhermina da Silveira


Quem quer males evitar, 
evite-lhe a ocasião, 
que os males por si virão, 
sem ninguém os procurar, 
e antes que ronque o trovão, 
manda a prudência ferrar.

Pois, embora diluso, nem sei de ir-me, do viver... 
Sigo enlouquecido de esperança! 
De girassóis e de ouro cravejam-se as estações celestiais, 
além de vida e de ressurreição.

Frente ao espelho, com prudência, vestido de primavera, 
vai um infante subindo e descendo, 
da vida mal sabendo as ladeiras. 
Vida de amores não é mesmo brincadeira...

Ismael Machado
Do livro Quatro Estações, 2018, Alfa Editora, excertos do poema com o título acima.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

No outono...

No outono, jazia o fruto da árvore plantada pelos meus desatinos. 
Fruto nem sempre amargo, às vezes, agridoce, 
levado pelas correntezas dos ventos nos bicos dos sabiás. 
Fruto de erros amarelecidos pelos fados sacrificiais, 
no caminho de folhas e de sinais na senda. 

No outono, o sol estenderá suas mãos em dádivas
a saciar a fome do povoado de esperanças. 
Os pássaros depois de saciados falarão com os homens e 
ambos compartilharão o mesmo teto de estrelas, sem delimitações. 
No outono, direi ao amado sol que a noite dos meus sonhos 
irá amanhecer colorida pelos frutos da estação, 
cujas sementes frutificaram no ventre da mulher o rebento de vida colossal.

O grão de poeira-semente caiu no vão da terra e germinou o verso, 
o reverso que se abriu do chão e voou para a imensidão do Universo. 
Vida e verso estão nas eras, nas estações de gerações. 
Vida e verso também frutificam e dão-nos os frutos diversos 
de comer e fartar a alma cansada dessa longa jornada. 
Quando as árvores se despirem, delas tomarei as folhas em asas e 
em alas abertas planarei com vestes de cores outonais. 

Na estação alaranjada pelo mesmo sol, 
a manhã nascerá encantada em vastos campos de trigo 
à clara luz do meio-dia; ali voará a liberdade 
aos olhos dourados do tempo aclamado de viver e se fartar do bem e do belo.

Ismael Machado
Do livro Quatro Estações, 2018, Alfa Editora.


segunda-feira, 18 de maio de 2020

Viva a Poesia presente em nossas vidas, todo e qualquer dia...




Eu vi um barco, taciturno, dançando, flutuando sobre os mares imensos e,
também, sobre as areias do deserto.
As águas eram pálidas, pareciam placentas, as areias eram 
virulentas, amarelas, febris, 
e desde o ventre tossiam aos ventos, elas eram d’uma
tessitura invisível e penetravam até os sensíveis alvéolos.

Eu vi a sombra do que não existe, e o reflexo dela, sob uma aparente
realidade, e isso pareceu-me algo além do mero entendimento.
Vi águas bailando pelos ares nos altos céus
e elas tocavam o ápice duma Torre de Babel, elas beijavam as bocas
dos homens e lhes confundiam os destinos, elas lhes liquidificavam
e fluíam em vozes pelos oceanos, mares, rios e regatos do mundo.

William Whitman