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sábado, 24 de setembro de 2022

Você pensa que o Hino Nacional Brasileiro sempre começou em “Ouviram do Ipiranga..."

Você sabia que o Hino Nacional tinha uma introdução diferente?


Se você pensa que o Hino Nacional Brasileiro sempre começou em “Ouviram do Ipiranga às margens plácidas”, você errou feio, errou rude... Mas primeiro, vamos relembrar um pouco da história da canção.


O Hino Nacional foi originalmente composto para ser tocado por uma banda marcial em 1822, pelo músico Francisco Manuel da Silva. Na década seguinte, uma letra foi incluída à melodia, tendo a autoria de Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva fazendo referências ao período em que o Brasil ainda era Império.


Com a Proclamação da República, em 1889, foi necessário trocar esse hino por um mais atualizado. Um concurso acabou escolhendo a letra de Medeiros e Albuquerque feita em 1890, mas ela foi tão massacrada pelos brasileiros da época que acabou sendo descartada – a saber, trata-se do Hino da Proclamação da República, aquele que fala “Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós!”.


Apenas em 1906 um novo concurso foi lançado, elegendo 3 anos depois um poema de Joaquim Osório Duque Estrada como a letra a ser inserida no hino oficial brasileiro. O que pouca gente sabe é que a parte instrumental que antecede os trechos cantados também possuía uma letra, supostamente atribuída ao paulista Américo de Moura, e dizia o seguinte:


"Espera o Brasil que todos cumprais com o vosso dever

Eia! Avante, brasileiros! Sempre avante


Gravai com buril nos pátrios anais o vosso poder

Eia! Avante, brasileiros! Sempre avante


Servi o Brasil sem esmorecer, com ânimo audaz

Cumpri o dever na guerra e na paz

À sombra da lei, à brisa gentil

O lábaro erguei do belo Brasil

Eia! Sus, oh, sus!"


Como você pode notar, o trecho incluiria outras palavras e expressões complexas, tais como as que permaneceram na letra oficial do hino. Para quem não sabe, “buril” é uma instrumento em aço e com a ponta cortante em V, usado para fazer gravações em metais e madeiras. Já o termo “sus” vem do latim e significa “de baixo para cima”, ou seja, é uma espécie de injetar ânimo no povo brasileiro.


Texto por Diego Denck


Ficou curioso(a) para saber como essa parte seria cantada? Aperte o play e ouça:

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Joaquim Osório Duque Estrada
Letra do Hino Nacional
Francisco Manuel da Silva
Música do Hino Nacional 

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

O que não se cala

Engole o choro. Engole sapo. Cala a boca. Cala o peito. Mas o corpo fala, e como fala. Falam as pontas dos dedos batendo na mesa. Falam os pés inquietos na cama. Fala a dor de cabeça. Fala a gastrite, o refluxo, a ansiedade. Fala o nó na garganta atravessado. Fala a angústia, fala a ruga na testa. Fala a insônia, o sono demasiado. Você se cala, mas o falatório interno começa. 


As pessoas adoecem porque cultivam e guardam as coisas não digeridas dentro de seus corações. O normal do ser humano seria a comunicação e conseguir dizer o que está sentindo. Mas nem todos se habilitam para esse difícil exercício. Nem sempre digerimos bem aquelas pequenas coisas, como mensagens mal respondidas, as palavras que machucam... Você finge que não ouviu, engole e tudo isso vai se acumulando até que um dia enche. Esses pequenos fatos indigestos percorrem a garganta, entram no estômago, invadem o peito e, se deixarmos, calarão nossa boca e nossa paz. O importante é não deixar acumular ou achar que simplesmente vai aliviar com o passar dos dias. O tempo até tem um papel importante, mas não resolve tudo. Tentar mostrar que tudo sempre está bem requer muita energia, o desgaste emocional é grande. Não dá pra engolir tudo e dizer amém! Eu sei. 


Também não dá pra cometer "sincericídios" por aí e sair vomitando as coisas entaladas na sua garganta. Mas dá para se expressar. Tem hora que o sentimento pede pra ser dito, entendido, descodificado, traduzido. Tudo que ele quer é ser exorcizado pela palavra ou pela via que lhe cabe melhor. Expressar tranquiliza a dor. Dor não é pra sentir pra sempre. Dor é vírgula. 


Então faz uma carta, um poema, um livro. Canta uma música. Pega as sapatilhas, sapateia. Faz uma aquarela. Faz uma vida. Faz piada, faz texto, faz quadro, faz encontro com amigos. Faz corrida no parque. Fala pro seu analista, fala para Deus, para o Universo... se pinta de artista. Conversa sozinho, papeia com seu cachorro, solta m grito pro céu, mas não se cale. Pois “se você engolir tudo que sente, no final você se afoga”.


Ruth Borges, Revista Bula.

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Hino Nacional cantado por indígenas

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Amália Rodrigues: a fadista, por Raquel Naveira

Amália Rodrigues

Meu avô português, o Carvalhinho, amava ouvir fados, principalmente os interpretados por Amália Rodrigues, verdadeiro ídolo para ele. Lembro-me das capas de seus discos, a fadista sempre sorridente, lábios vermelhos e xales estampados. O fado, na verdade, se origina do bem brasileiro lundu, música de nossos negros, cantada ao som da viola. Levado para Portugal por D. João VI o lundu mudou de nome, perdeu o ritmo acelerado e se fixou nos tons menores, mais adequados às lamentações e aos melodramas sentimentais, ao som das guitarras repinicadas. Tornou-se manifestação urbana dos bairros populares e operários de Lisboa. Com o advento da Rádio e do disco, as vozes das fadistas Ercília Costa, Ermelinda Vitória, chegam a um público cada vez mais vasto. O fado saltou das ruas e vielas de Lisboa para as casas de fado como o Retiro da Severa, onde Amália começou sua carreira.


Amália, a lisboeta humilde, foi a renovadora do fado, uma voz singular, uma intérprete com intensidade dramática que afirmava que o que interessa é sentir o fado, porque o fado não se canta, acontece. O fado sente-se, não se compreende, nem se explica.


Quando Amália esteve no Cassino de Copacabana em 1944, meus avós vieram do sul do cerrado de Mato Grosso assistir ao espetáculo e voltaram maravilhados com seu fascínio, seu vestido de crepe azul. O avô gesticulava contando sobre aquela noite inesquecível: Só faltei ajoelhar aos seus pés, tanta a emoção! Não há melhor embaixadora de Portugal no mundo!


Os fados preferidos de meu avô marcaram profundamente minha forma de ser, de escrever e de sentir: o doloroso e retumbante “Barco Negro”, de David Mourão-Ferreira:


De manhã, que medo   que me achasses feia

Acordei, tremendo, deitada n’areia,

Mmas logo os teus olhos disseram que não,

E o sol penetrou no meu coração.


Em outro trecho aquele tom de melancolia das mulheres que veem seu amado partir:


Eu sei, meu amor,

Que nem chegaste a partir,

Pois tudo, em meu redor,

Me diz que estás sempre comigo.


E nas horas de alegria, espalhava-se pela casa o som da “Casa Portuguesa”:


Numa casa portuguesa fica bem pão e vinho sobre a mesa.

Quatro paredes caiadas,

Um cheirinho de alecrim,

Um cacho de uvas doiradas,

Duas rosas num jardim,

Um São José de azulejo

Sob um sol de primavera,

Uma promessa de beijos,

Dois braços à minha espera...

É uma casa portuguesa, com certeza!

É com certeza, uma casa portuguesa!


Quando Amália Rodrigues morreu, no dia 06 de outubro de 1999, meu avô José já tinha partido. Acompanhei o noticiário em lágrimas, lembrando dele, de quando eu dançava ao som dos fados, segurando as pontas da saia e ele me chamava de “minha borboleta”. Vi como Lisboa chorou: as flores, os lenços brancos acenando, os sinos das igrejas tocando. Nas ruas, nos carros, nas lojas, por todo lado o fado de Amália. O Fado da Bica, dos Caracóis, da Saudade, do Ciúme, do Silêncio. Ó Flor do Verde Pinho que lavava Portugal, lavava, nas madrugadas de Alfama, Lisboa em Festa, Lisboa das cantigas de amigo, dos fadinhos serranos da Esquina do Pecado. Nunca mais o Tiro Liro Liro. Ai, meu amor, o marinheiro está longe e sou dele e sou tua. Todas as guitarras ficaram tristes. Gaivota. Libertação.

terça-feira, 6 de setembro de 2022

34a. Noite da Poesia, 15.09.22, 19h30


De Fernando Pessoa, A criança que fui chora na estrada


I
A criança que fui chora na estrada.

Deixei-a ali quando vim ser quem sou;

Mas hoje, vendo que o que sou é nada,

Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou

A vinda tem a regressão errada.

Já não sei de onde vim nem onde estou.

De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar

Um alto monte, de onde possa enfim

O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,

E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar

Em mim um pouco de quando era assim.

II
Dia a dia mudamos para quem

Amanhã não veremos. Hora a hora

Nosso diverso e sucessivo alguém

Desce uma vasta escadaria agora.

E uma multidão que desce, sem

Que um saiba de outros. Vejo-os meus e fora.

Ah, que horrorosa semelhança têm!

São um múltiplo mesmo que se ignora.

Olho-os. Nenhum sou eu, a todos sendo.

E a multidão engrossa, alheia a ver-me, Sem que eu perceba de onde vai crescendo.

Sinto-os a todos dentro em mim mover-me,

E, inúmero, prolixo, vou descendo

Até passar por todos e perder-me.

III
Meu Deus! Meu Deus! Quem sou, que desconheço

O que sinto que sou? Quem quero ser

Mora, distante, onde meu ser esqueço,

Parte, remoto, para me não ter.

22.09.1933
Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa. (Direcção, recolha e notas de Maria do Rosário Marques Sabino e Adelaide Maria Monteiro Sereno.) Lisboa: Ática, 1973 (4ª ed. 1993).
 

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Eu quero sair, eu quero falar

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"Eu quero sairEu quero falarEu quero ensinar o vizinho a cantarNas manhãs de setembro."

Música composta em 1973 
por Mário Campanha, 
interpretada por Vanusa.

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Certamemte o melhor dos sistemas

Ano de 1947, Inglaterra, foi parte do discurso de Churchill na Câmara dos Comuns. 

O detalhe é que ele tinha perdido as eleições antes desta fala e havia um descontentamento natural, mas também um reconhecimento quanto ao supremo valor da democracia. 

Comentários: Ismael Machado