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quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

"Vida bela vida", de Guilherme Rondon e Paulo Simões

Pensando bem
Quantos sonhos deixamos pra trás
Outros porém
Nós tornamos reais
Vida bela linda vida
Por que não viver?
Muito tempo ainda
Junto com você
Deve existir
Um motivo pra continuar
Aonde ir
Ou pra onde voltar
Nossos corações
Quando podem ser felizes batem
Muito mais...

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Ojalá, de Silvio Rodriguez

Ojalá que las hojas no te toquen el cuerpo cuando caigan
Para que no las puedas convertir en cristal
Ojalá que la lluvia deje de ser milagro que baja por tu cuerpo
Ojalá que la luna pueda salir sin ti
Ojalá que la tierra no te bese los pasos

Ojalá se te acabe la mirada constante
La palara precisa, la sonrisa perfecta
Ojalá pase algo que te borre de pronto
Una luz cegadora, un disparo de nieve
Ojalá por lo menos que me lleve la muerte
Para no verte tanto, para no verte siempre
En todos los segundos, en todas las visiones
Ojalá que no pueda tocarte ni en canciones
Ojalá que la aurora no de gritos que caigan en mi espalda

Ojalá que tu nombre se le olvide a esa voz
Ojalá las paredes no retengan tu ruido de camino cansado
Ojalá que el deseo se vaya atrás de ti
A tu viejo gobierno de difuntos y flores
Ojalá se te acabe la mirada constante
La palara precisa, la sonrisa perfecta
Ojalá pase algo que te borre de pronto
Una luz cegadora, un disparo de nieve
Ojalá por lo menos que me lleve la muerte
Para no verte tanto, para no verte siempre
En todos los segundos, en todas las visiones

Ojalá que no pueda tocarte ni en canciones
Ojalá pase algo que te borre de pronto
Una luz cegadora, un disparo de nieve
Ojalá por lo menos que me lleve la muerte
Para no verte tanto, para no verte siempre
En todos los segundos
En todas las visiones
Ojalá que no pueda tocarte ni en canciones

Compositor: Silvio Rodriguez Dominguez

domingo, 26 de dezembro de 2021

Bancos de literais livros

Às vezes, é desafiador desconstruir as palavras, 
compactadas, sedimentadas em seus significados perdidos no tempo, 
significados esses desconhecidos pela sociedade dos poetas vivos.

Ismael Machado
(Do livro Folhas ao Vento, 2015, Life)
 

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Os delírios verbais me terapeutam

Sei que fazer o inconvexo aclara as loucuras. Sou formado em desencontros.
A sensatez me absurda. Os delírios verbais me terapeutam.

Posso dar alegria ao esgoto (palavra aceita tudo).
(E sei de Baudelaire que passou muitos meses tenso porque não encontrava um título para os seus poemas. Um título que harmonizasse com os seus conflitos. Até que apareceu Flores do Mal, A beleza e a dor. Essa antítese o acalmou).

As antíteses congraçam.

Manoel de Barros

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Meninos e Unicórnios

Houve um tempo em que os meninos brincavam, falavam com os unicórnios 
debaixo de árvores colossais.

Ismael Machado
(Do livro Folhas ao Vento, 2015, Life)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Casa no campo

Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras
Pastando solenes no meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
E meu filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau a pique e sapê
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros e nada mais
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos, meus livros e nada mais
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros e nada mais
Fonte: Musixmatch
Compositores: Jose Rodrigues Trindade / Luiz Carvalho


terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Onça desafiadora

Nestes dias encaro e até cavalgo, corajosamente, 
a onça pintada de dificuldades
e de desafios diários.

Ismael Machado
(Do livro Folhas ao Vento, 2015, Life)

domingo, 12 de dezembro de 2021

Fake news, a mentira de sempre

A boca escancarada da mentira se encherá de formigas. 
Mas saiba que, até as formigas, em seus reinos,
 deleitam-se com as folhas verdes de verdade!?

Na ida vi flores desabrocharem na árvore da impiedade. 
De regresso, olhos ressequidos não viram flores, sequer maldade.

Ismael Machado
(Do livro Folhas ao Vento, 2015, Life)

sábado, 11 de dezembro de 2021

Eu sei, mas não devia

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor.
E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma acender mais cedo a luz.
E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar café correndo porque está atrasado.
A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.
E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos.
E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
E a ganhar menos do que precisa.
E a fazer filas para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes.
A abrir as revistas e a ver anúncios.
A ligar a televisão e a ver comerciais.
A ir ao cinema e engolir publicidade.
A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição.
As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
À luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias da água potável.
À contaminação da água do mar.
À lenta morte dos rios.
Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.
Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta, de tanto acostumar, se perde de si mesma.

Marina Colasanti

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Versos e reversos

Universo diverso num verso e reverso que terço e esterço
 faço e refaço e traço no espaço que enlaço 
num verso diverso e feito Universo.

Ismael Machado


quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Vida breve


Tão breve a vida,
às vezes, tão longa lida...

Pra sabê-la ipso facto,
uma só saída,
o mais não seria sensato,
que não há outra, senão vivê-la.

Vivendo e morrendo a cada dia
e seu prazer e sua dor sorvendo.
Temendo nada ou tudo
e mesmo assim seguindo.

Tão bela a vida, quão triste a morte. 
Quem sabe, uma ou outra, tão grande sorte...

Ismael Machado

domingo, 7 de novembro de 2021

Franz Kafka e a boneca...

Aos 40 anos Franz Kafka (1883-1924) que nunca se casou e não tinha filhos, passeava pelo parque de Berlim quando conheceu uma menina chorando porque tinha perdido sua boneca favorita. Ela e Kafka procuraram a boneca sem sucesso.

Kafka disse-lhe para o encontrar lá no dia seguinte e eles voltariam à procura dela.
No dia seguinte, quando ainda não tinham encontrado a boneca, Kafka deu à menina uma carta "escrita" pela boneca que dizia: "Por favor, não chores. Fiz uma viagem para ver o mundo. Vou te escrever sobre as minhas aventuras." Então começou uma história que continuou até ao fim da vida de Kafka.

Durante os seus encontros, Kafka leu as cartas da boneca cuidadosamente escritas com aventuras e conversas que a menina achava adoráveis.
Finalmente, Kafka trouxe-lhe a boneca (comprou uma) que tinha voltado a Berlim.
"Não se parece nada com a minha boneca", disse a menina.
Kafka entregou-lhe outra carta em que a boneca escrevia: "-As minhas viagens mudaram-me." A menina abraçou a nova boneca e a trouxe toda feliz para casa.

Um ano depois, Kafka morreu.
Muitos anos depois, a menina adulta encontrou uma cartinha dentro da boneca. Na pequena carta, assinada por Kafka, estava escrito:
"Tudo o que você ama, provavelmente será perdido, mas o amor voltará de outra forma."

terça-feira, 2 de novembro de 2021

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Rachou-me o pote...

Obra do artista Luiz Xavier

Entre flores raras os pensamentos circulam
no solo fértil do hemisfério cerebral, enquanto a juventude vai se perdendo
em seus cabelos negros e os meus olhos cintilam estrelas.
 
Eu lhe perdi, assim como se perdem os unicórnios,
perdi-me no breve caminho de um campo grande
para a minh'alma inda pequena,
entre flores também raras; 
de muitas perdas locupleta-se a existência.
 
Agora não me importam as horas,
a natureza me reconforta em verdes folhas que escrevo.
Estrelas ainda cintilam nos meus sonhos,
nos seus longos cabelos escritos em noite escura.
 
Choro em inglês e bebo melancolia na linha do horizonte ao pôr do sol...
A vida vai me piscando... dia após dia,
  até me desaparecer ao fim desse curto e aparente longo caminho.
 
O pote de barro rachou-me
e a sede vazou-me em versos...
 
Ismael Machado

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Escritora Paulina Chiziane, de Zamzébia - Moçambique, ganhadora do Prêmio Camões de Literatura 2021

Clicar em Versão para Web, 
ao final da página, para assistir o vídeo acima.

A lucidez dessa mulher ao afirmar que mesmo quando escreve na primeira pessoa traz a voz coletiva, e portanto o prêmio é para todo um povo, cuja memória é matéria de sua literatura, realmente emociona.

Ela dizer que veio do chão, ou de lugar nenhum é muito forte. E ser inspiração para as futuras gerações é revolucionário.
Nesse momento em que se explicita a chaga do racismo, mobilizando a imprensa e a sociedade em diferentes partes do planeta, o Prêmio Camões, para além da literatura, assume uma posição política louvável.

E a cereja do bolo foi Paulina se assumir pobre e dizer que vai esperar o dinheiro para comprar champanhe.

Professor Paulo Cabral
Campo Grande - MS