(Sobre o livro Folhas ao vento, Life Editora, 2015).
... O estudioso holandês Huizinga nos diz “O que
a linguagem poética faz é essencialmente jogar com as palavras. Ordena-as de
maneira harmoniosa e injeta mistério em cada uma delas, de modo que cada imagem
passa a encerrar a solução de um enigma”. É exatamente o que podemos encontrar
em Folhas ao vento: o jogo das palavras, a harmonia desse
tabuleiro e o mistério nele contido para, então, alcançar o enigma nele
inserido. Exemplo desse processo está no poema “Nos campos do outono” (texto
181) em que o eu lírico, através da grande metáfora do outono, expõe suas
pequenas falhas que se desvanecem pela força do momento através de “fruto nem
sempre amargo, às vezes agridoce,/ levado pelas correntezas dos ventos nos
bicos dos sabiás” e, sob essa mesma força, poderá “saciar a fome do povoado de
esperanças”, ou ainda “sementes frutificaram no ventre da mulher/ o rebento de
vida colossal”. Todas as figuras apresentadas confluem para a construção de um
novo tempo beneficiado pela chegada do outono.
È, no trabalho com a palavra, que o poeta
encontra um modo de suportar um mundo muitas vezes impregnado de hostilidade,
mas também de festejar com exuberância e gozo evidentes as benesses do viver.
Já disse o grande crítico literário português
Eduardo Lourenço que não há nada a dizer de um poema, “porque tudo o que dissermos dele se nos afigurará
inferior a ele”. O texto representa um trabalho sobre o melhor modo de dizer o
que diz, por isso é o bastante citá-lo como farei ao desejar que possa haver,
no momento de as flores novamente aparecerem, um outro canto com sabiás “sob
outras alcunhas, nos laranjais eternos” , outros “versos do alvorecer” que
pareçam “gaivotas plainando,/ singrando os ares em frases e versos”.
Sonia
Mara Ruiz Brown
Dra. em
Literatura Portuguesa pela USP
Dizia meu professor Tomas Back BB: "escrever é 99% transpiração e 1% inspiração"
ResponderExcluirCaro João, esta frase se bem me lembro é do Afonso Romano Santana, um excelente escritor brasileiro. Grato pelo seu comentário e bem-vindo ao Blogue. Um abraço meu amigo. Ismael.
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