Aos
simples e ilustres belemenses
I.
De onze janelas aponto para as transitoriedades desta curta existência.
Sim, duma delas avisto Tarsila
pintando...
Doutra, posso ver Portinari e sua brasilidade característica.
II. Noutra está Burle Marx abstraído em
óleo e tela.
Vejo José Lins do Rego, no cemitério São
João Batista,
reescrevendo com mãos escorregadias para a eternidade,
e eu também me debruço nesses parapeitos que dão para o infindo.
Saio do meu gabinete de papéis para contemplar a contemporaneidade
em onze tempos diversos.
III. Dali, donde vejo Lispector proseando
poeticamente com Manuel Bandeira,
animadamente, numa prosa de arrepios.
Ambos parecem gaivotas plainando, singrando os ares em frases e versos
que vão mais além da casa de muitas janelas para o mundo.
IV. O desencanto também vai flutuando sobre
o rio das artes.
Ele é visto pelas inúmeras janelas da
pobreza.
Assim, sem fronteiras, o poeta viaja pelas linhas do invisível.
Silhuetas observam-lhe de onze pontos distantes,
são olhos postos em vertentes poéticas.
V. Das janelas, as paisagens vão se
dissipando, dissimulando-se
em sorrisos, dores, cores à clara íris,
mas o meu pranto só o veem pelas janelas da alma,
olhe lá!... só pelas frestas dela.
O corvo sentado ao longe espreita os passantes,
espreita a morte e seu anjo ceifeiro.
VI.
Marinheiro, marinheiro, quem te ensinou a nadar?!...
ou foi o balanço da proa, ou foi o agito
do mar...
VII. Um vaso marajoara foi colocado numa
daquelas onze janelas,
e com ele faces estateladas olham para
esta civilização e nossas mazelas.
VIII. Descalço os meus pés sobre as pedras do
Círio;
a corda que nos entrelaça desata os nós
em nós, dos corpos colados
pelo suor duma fé muito além das nossas distâncias.
IX. Das mesmas onze janelas, de cada uma
delas,
vê-se a procissão, o amontoado de gente
excitada pela esperança
ou pelo movimento da massa unida num só corpo romeiro,
coroado pelos sons dos sinos.
X. Os manuscritos dos mortos dizem coisas
que não sei ler.
Quando enfim fecharem-se as janelas
muitos dirão que mulheres nasceram nelas,
que eram janelas duma Belém Celestial.
Que mulheres nasceram das costelas da vida,
e elas intuem tantos jeitos de longevidade...
XI. Eis os avarandados da saudade,
e eles
tem suas janelas para dento do poema.
Doutra, posso ver Portinari e sua brasilidade característica.
reescrevendo com mãos escorregadias para a eternidade,
e eu também me debruço nesses parapeitos que dão para o infindo.
Saio do meu gabinete de papéis para contemplar a contemporaneidade
em onze tempos diversos.
Ambos parecem gaivotas plainando, singrando os ares em frases e versos
que vão mais além da casa de muitas janelas para o mundo.
Assim, sem fronteiras, o poeta viaja pelas linhas do invisível.
Silhuetas observam-lhe de onze pontos distantes,
são olhos postos em vertentes poéticas.
mas o meu pranto só o veem pelas janelas da alma,
olhe lá!... só pelas frestas dela.
O corvo sentado ao longe espreita os passantes,
espreita a morte e seu anjo ceifeiro.
pelo suor duma fé muito além das nossas distâncias.
ou pelo movimento da massa unida num só corpo romeiro,
coroado pelos sons dos sinos.
muitos dirão que mulheres nasceram nelas,
que eram janelas duma Belém Celestial.
Que mulheres nasceram das costelas da vida,
e elas intuem tantos jeitos de longevidade...
Ismael Machado
Grande e belo poema. A metafísica é a realidade do poeta, e isso é claro na obra de Ismael. Aliás, ele é um dos poucos portas que conheço que vivem literalmente a podia.
ResponderExcluirObrigado pela leitura do poema e do poeta, rsrs. Abraço, Ismael.
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