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segunda-feira, 3 de julho de 2023

Casa da Saudade, número 19

Aquela casa ficou-lhe apertada de saudades de quem já não havia mais, por isso mudou-se, sem mudar a dor que levou consigo, apertada na bagagem do peito. 

 

Ouço uma anhuma com seu alarde a nos anunciar o perigo maior: a morte de muitos, mais de quinhentos mil, isso somente no Brasil.

 

Uma multidão de amores, de repente, abruptamente, morta. Há um aperto no peito, um vazio na casa e o poeta pôs-se vestido de saudades vivas... agora, como despir-se delas?

 

Saudade palavra de três sílabas, três consoantes, quatro vogais e um alfabeto inteiro de certo amargor, saudade é uma rosa de pétalas melancólicas, mas bem parece espinho cheirando flor.

 

A anhuma de novo alerta com alarido, pois há um grave perigo na esquina, um vírus numerando as partidas, continuamente, rapidamente, ceifando vidas incontáveis, feito o anjo mortal.

 

Pela manhã o toco-toco virá dos pântanos, com seu canto distinto, canto de belezas, de todo modo intentar nos consolar. Com seus voos diversas anhumas tracejam cruzes, meio milhão delas nos ares sombrios, suas asas estão pesadas de tristezas.

 

Um dia triste, sem saúde, sem oxigênio, com imensa dor mais uma pessoa finda o seu tempo, num certo dia morno, morto... Foi-se o dia dezenove de junho da era de dois mil e vinte e um da graça salvífica. Saudade é palavra inominável no peito e traz à lembrança o ente querido, que por ela, jamais será perdido.

 

Ismael Machado

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