Aquela casa ficou-lhe apertada de saudades de quem já não havia mais, por isso mudou-se, sem mudar a dor que levou consigo, apertada na bagagem do peito.
Ouço uma anhuma
com seu alarde a nos anunciar o perigo maior: a morte de muitos, mais de
quinhentos mil, isso somente no Brasil.
Uma
multidão de amores, de repente, abruptamente, morta. Há um aperto no peito, um
vazio na casa e o poeta pôs-se vestido de saudades vivas... agora, como
despir-se delas?
Saudade
palavra de três sílabas, três consoantes, quatro vogais e um alfabeto inteiro
de certo amargor, saudade é uma rosa de pétalas melancólicas, mas bem parece
espinho cheirando flor.
A anhuma
de novo alerta com alarido, pois há um grave perigo na esquina, um vírus
numerando as partidas, continuamente, rapidamente, ceifando vidas incontáveis,
feito o anjo mortal.
Pela manhã
o toco-toco virá dos pântanos, com seu canto distinto, canto de belezas,
de todo modo intentar nos consolar. Com seus voos diversas anhumas
tracejam cruzes, meio milhão delas nos ares sombrios, suas asas estão pesadas
de tristezas.
Um dia
triste, sem saúde, sem oxigênio, com imensa dor mais uma pessoa finda o seu
tempo, num certo dia morno, morto... Foi-se o dia dezenove de junho da era
de dois mil e vinte e um da graça salvífica. Saudade é palavra inominável
no peito e traz à lembrança o ente querido, que por ela, jamais será perdido.
Ismael Machado
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