Supostas prisões, versos livres
“A liberdade é uma palavra
que o sonho humano alimenta,
não há ninguém que explique e
ninguém que não entenda.”
(Cecília Meireles)
Há prisões neste mundo, em doenças
que prendem os moribundos
aos seus leitos de dores, dos quais
a morte vem, depois, libertar.
Há prisões em corpos esculturais,
presos às suas paixões e a
determinados padrões e, também, em
prazeres do sexo, do poder e da fama.
Há prisões hedonistas, masoquistas e sádicas.
Há prisões em deficiências, limitações,
as quais se tentam superar.
Estampadas em telas de artistas e
em livros de literatura, que delas, por fim,
querem se libertar.
Há prisões em tristezas contidas, depressões,
em frases não ditas, em dores conscientes,
confessas, dissimuladas, há prisões.
Há prisões não supostas em vícios vários,
a princípio prazerosos, mas em formato de
algemas que fazem gemer depois.
Há prisões que badalam os seus sinos,
chamando os inocentes ou pobres pecadores
às suas celas de doutrinas, para as quais
os incautos prisioneiros caminham
ainda plenos de esperanças.
Há prisões que prendem os seus amores
em reais horrores, e machucam por dentro e fora.
Há prisões onde o espancamento declarado
espanta a Declaração dos Direitos Humanos.
Há prisões até entre os pretensos imortais,
às vezes presos às suas vaidades inomináveis.
Há prisões em parcos recursos para a educação,
capazes de aprisionarem gerações e gerações.
Há prisões dentro de si, as quais prendem mais
do que as grades de metais das cadeias,
donde é difícil se soltar. Necessitam psicólogos,
psiquiatras, quais carcereiros, para
ajudar na soltura de traumas e tramas
das celas escuras do inconsciente.
Há prisões em diversos tipos de transtornos
mentais, físicos e emocionais.
Há prisões em trabalhos que de nada libertam,
são meras formas de escravidão, modernas
senzalas para negros, brancos, pardos ou não.
Há prisões em palácios com as suas cercas elétricas,
portões eletrônicos e altos muros de medo.
Há prisões em burocratas justiças e suas
lentidões e, ainda, em injustas legislações.
Há prisões nas sarjetas e em maltrapilhos
famintos de igualdade e fraternidade.
Há prisões que prendem os pais e os filhos
em distâncias não transpostas.
Há prisões supostas ou não, mas o ser, enfim,
anseia pela vida e pela liberdade.
Ismael Machado
25 de abril, Dia da Revolução Cravos