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domingo, 7 de julho de 2024

Há dias de tanta angústia, Fernando Pessoa


Há dias de tanta angústia
Que não sei do que ela é.
Não sei se me sobra o sonho.
Não sei se me falta a fé.

É uma angústia que nasce,
Como de um solo, de mim,
Que parece ser eu todo
Com razão de ser assim.

E esmaga-me toda a alma,
Confunde todo o meu ser
E tudo gira em meu torno
Sem eu o compreender.

Mágoa como um portão velho,
Ferrugem da quinta enfim,
Que nem abre nem fecha
E é assim porque é assim.

05.03.1931
Fernando Pessoa. 
Vinte Anos de Poesia Ortónima

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