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domingo, 29 de setembro de 2024

De Raquel Naveira, Milho

Passo pela carrocinha que vende milho, curau, pamonha. Aproximo-me: “- Um milho, por favor.” O homem destampa o caldeirão fervente, de espigas que boiam nas palhas verdes. O vapor cheiroso sobe pelos ares.

Lembrei-me das roças de milho da minha infância, de como andávamos entre os longos eixos de cabelos vermelhos, de como o vento balançava as hastes e os festões como bandeiras.

Cora Coralina escreveu o “Poema do Milho”, um retrato sensível do interior do Brasil. O ciclo da vida dessa planta que é alimento do gado e das pessoas. Na “Oração do Milho” ela personifica e dá voz ao milho que se dirige a Deus declarando sua humildade e pobreza. Reconhece a supremacia do trigo, pão universal, Pão da Vida consagrado nos altares. Um Deus no Pão. Quanta simplicidade. Depois dessa introdução, ela começa a descrever os tipos de milho na lavoura: seco, granado, virado, maduro, debulhado, mascado. O lavrador atirando as sementes nas covas e arrastando a terra com o pé. Sacerdote e plantador. O milho nascendo, se levantando, encorpando. Masculino e feminino, germinando em saias, túnicas, cabeleiras, fragrâncias, pendões, polens, numa extravasão de libido vegetal. Força de gênese.

Rute, a personagem bíblica, respigava grãos entre os feixes, apanhava espigas dos segadores nos campos de seu amado Boaz. Cora diz que o grão que cai não deve ser respigado, que é o direito da terra, que a espiga perdida pertence às aves que têm seus ninhos e filhotes a cuidar. Ao lavrador, bastam o monte alto, a cesta cheia.

Devoro com gosto os grãos amarelos. Os dentes rangendo no sabugo, como uma ameríndia do Novo Mundo. Uma asteca adornada de plumas, colares de pedra, segurando nas mãos um girassol. Minha civilização está perdida, mas meus lábios continuam rubros, cheios de polen dessa inflorescência dura que se transforma em papa de farinha. Na selva, vive ainda o espírito do jaguar. O reino do imperador Montezuma não ofereceu resistência aos homens estranhos que chegaram em navios de velas brancas. Que surpresa a deles quando viram o milharal enramado, os falos ofertados e pujantes sob a lua cheia. Foi a deusa Quetzalcoáti que engendrou os homens e o milho com a ajuda de larvas, abelhas silvestres e ossos moídos de gerações passadas.

Seguro nas mãos as palhas do milho quente, cascas boas e fibrosas. Eça de Queiroz, romancista português, autor de “Os Maias” e “O Crime do Padre Amaro”, livros que amo, viveu em uma aldeia chamada Verdemilho, na casa de seus avós paternos. Poderia ter cantarolado um antigo fado: “- Milho verde, milho verde/ À sombra do milho verde...”

Senti-me nutrida, satisfeita. Um dia vivi no ritmo da natureza. Hoje me alegro com uma simples carrocinha que vende milho na rua.

E o poema “Milho” ficou assim:

Milho,
Mágico filho da América,

Planta sagrada,
De douradas sementes
Que se espalham
Entre palhas
E festões.

Enigma amarelo,
De pequenos elos solares,
Sem ele
Não haveria o mundo,
Nem o homem,
Não fosse esse farelo
Que engendrou o próprio pai.

Casca compacta,
Espiga ereta,

Que guarda os grãos,
O polen,
A colheita,
A ceia farta,

De angu pesado,
De farinha moída
Que sustenta.

Milho,
Tua origem,
Entre o junco e a cana,
É a prosperidade americana.

Raquel Naveira

terça-feira, 17 de setembro de 2024

As cores de Frida

As cores de Frida 
me abrem horizontes,
elas descortinam o arco-iris
em flores e tons de amores.
Então, me Kahlo!

Ismael Machado

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Ambição e poder


"Não haverá risos; 
não haverá arte; literatura ou ciência; só haverá ambição de poder, cada dia de uma forma mais sutil."

George Orwell - 1984

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Agatha Christie, a autora mais lida

Em 1926, Agatha Christie estava à beira do desespero. 

Aos trinta e cinco anos, ela estava a lidar com a profunda dor de perder a sua amada mãe, um golpe emocional que logo foi agravado pela revelação estilhaçadora de que o seu marido, Archie Christie, estava apaixonado por outra mulher e procurou o divórcio. 

O choque duplo mergulhou Agatha numa depressão profunda, deixando-a como se o melhor da vida tivesse escapado. 

A única coisa que a impediu de sucumbir aos seus pensamentos mais sombrios foi a sua filha de sete anos, Rosalind, cuja presença era um farol de esperança.

Agatha Miller tinha sido um talento prodigioso desde cedo. 

Nascida numa família inglesa abastada em 1890, ela aprendeu a ler sozinha aos quatro anos de idade, um sinal do futuro extraordinário que a esperava. 

Aos 22 anos, ela conheceu e casou-se com Archie Christie, um piloto arrogante, na véspera de Natal de 1914. 

O casamento deles suportou os julgamentos da Primeira Guerra Mundial, e eles finalmente se estabeleceram em Londres, onde a sua filha Rosalind nasceu em 1919. 

Quando seu casamento começou a desvendar-se, Agatha já tinha feito um nome para si mesma com cinco romances de detetives bem sucedidos, embora ela dificilmente pudesse prever a imensa aclamação que estava pela frente.

À medida que ela lentamente emergiu da sombra do seu casamento fracassado, Agatha encontrou consolo na sua escrita e buscou novas experiências para reacender o seu espírito. 

Uma viagem no Expresso do Oriente levantou-lhe o humor, mas foi um convite para uma escavação arqueológica no Iraque em 1930 que iria alterar a sua vida para sempre. 

Lá, ela conheceu Max Mallowan, um distinto arqueólogo treze anos mais novo. 

O amor deles floresceu e eles se casaram mais tarde naquele ano. 

Este novo capítulo marcou o início de uma parceria alegre e duradoura que durou até a morte de Agatha.

O ano de 1926, que antes parecia o fim do mundo de Agatha Christie, provou ser apenas o começo. 

Nas décadas que se seguiram, ela continuaria a alcançar um sucesso sem precedentes. 

Seus romances cativaram leitores em todo o mundo, tornando-a a autora mais amada do mundo com mais de 70 best-sellers e a criadora da peça mais longa da história. 

Seu segundo casamento com Max Mallowan foi uma fonte de grande felicidade, e ambos receberam honras por suas contribuições para seus respectivos campos - Max foi nomeado cavaleiro em 1968, e Agatha tornou-se uma Dama do Império Britânico em 1971.

Agatha Mary Clarissa Miller Christie Mallowan faleceu em 12 de janeiro de 1976, aos 85 anos. 

Com mais de dois bilhões de cópias vendidas, ela permanece como a romancista mais vendida da história, seu legado é um testemunho de uma vida redefinida pela resiliência e brilho literário.  Um primor literário! ❤️📙 

                         👏👏👏👏