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sábado, 11 de maio de 2024

Quando a tempestade passar (homenagem às vítimas das enchentes no RS)

Muito próprio para o momento, 
escrito há 2 séculos.
veja a beleza desse poema.

Quando a tempestade passar,
as estradas se amansarem
E formos sobreviventes
de um naufrágio coletivo,
Com o coração choroso e o destino abençoado
Nós nos sentiremos bem-aventurados
Só por estarmos vivos.
E nós daremos um abraço ao primeiro desconhecido
E elogiaremos a sorte de manter um amigo.


E aí nós vamos lembrar tudo aquilo que perdemos e de uma vez aprenderemos tudo o que não aprendemos.
Não teremos mais o coração endurecido 
Seremos todos mais compassivos.
Não teremos mais inveja pois todos sofreram.

Valerá mais o que é de todos do que o que eu nunca consegui.
Seremos mais generosos
E muito mais comprometidos
Nós entenderemos o quão frágeis somos, e o que 
significa estarmos vivos!

Vamos sentir empatia por quem está e por quem se foi.
Sentiremos falta do velho que pedia esmola no mercado, que nós nunca  soubemos o nome e sempre esteve ao nosso lado.
E talvez o velho pobre fosse Deus disfarçado...
Mas você nunca perguntou o nome dele, porque estava com pressa...

E tudo será milagre! 
E tudo será um legado
E a vida que ganhamos será respeitada!

Quando a tempestade passar
Eu te peço, Deus, com tristeza,
Que você nos torne melhores.
como você "nos" sonhou.


K. O'Meara

(Poema escrito durante a epidemia de peste em 1800).

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Erro poético

Sou o açúcar 
procurando a formiga. 
Meu carreiro 
não tem linha. 
É um ponto, um planetário grão. 
A minha natureza 
é uma inacabada caligrafia: 
apenas os erros me defendem. 
O amor apenas 
me rasura a alma. 
Com a formiga 
partilho alucinogénicos: 
migas de paixão, migalhas de doçura.

Mia Couto, 
em "Tradutor de Chuvas"