domingo, 18 de novembro de 2012

A saga de escrever, de falar, de ser

Para Mae West

Tu queres a palavra?
E a palavra te quer?
Se queres mesmo
Tome-a, segure-a.
Lavrada em laudas soltas
Em bocas vazias, abertas, falantes
Ta dou.
Cuidado! Não a deixe cair,
Não a deixe quebrar, partir
Nem mais uma vez.
De mão em mão,
De boca em boca,
E papel em papel,
Vá seguramente passando.
Fugidia ela escapa
Pelos vãos dos dedos das mãos,
Por tudo perpassa
A todos aponta, acusa, ameaça.
Substantivada no feminino, feminista
Inveterada.
Poderosa, o adjetivo predileto.
A palavra é também pronome,
Preferentemente me, mi, comigo, eu.
Artigo: o, a, um, uma – bissexuada.
Advérbio, o seu jeito de ser e estar.
Também preposição, no sentido “literis”,
Posta de antemão.
Interjeição tantas vezes
E muito, muito mais. Não duvide
Ela faz reger, concordar
De forma verbal ou nominal.
Em ação a palavra transmuta-se
No Verbo: Falo.
Ela, criadora e criatura incriada.

Ismael Machado
(Poema premiado pela Editora da UFMS no III Concurso Literário: Lobivar de Matos. Publicado na Coletânea 
do referido prêmio e também no livro Folhas de Março, 2006).

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