Há dias de tanta angústia
Que não sei do que ela é.
Não sei se me sobra o sonho.
Não sei se me falta a fé.
É uma angústia que nasce,
Como de um solo, de mim,
Que parece ser eu todo
Com razão de ser assim.
E esmaga-me toda a alma,
Confunde todo o meu ser
E tudo gira em meu torno
Sem eu o compreender.
Mágoa como um portão velho,
Ferrugem da quinta enfim,
Que nem abre nem fecha
E é assim porque é assim.
05.03.1931
Fernando Pessoa.
Vinte Anos de Poesia Ortónima