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domingo, 23 de novembro de 2014

Na janela do tempo


...Eu vi, na janela do tempo...
folhas verdes levadas na tempestade da vida.

Vi securas na curva do ribeirão.
E, nos campos, seres sucumbir
pela fome do "Poder" rolando
os barrancos da ambição!
Vi jovens perdidos, velhos esquecidos,
homens tangidos pelas esporas da cobiça!

Eu vi... palhaços sorrindo infelizes
na palhaçada da vida.

Vi sombras do passado
percorrendo trilhas no presente
arremessando-se contra o cais do futuro.
Vi muitos jogando dores,
frustrações, amores pela janela do Tempo!

Esmeralda Borges

sábado, 15 de novembro de 2014

O fazedor de palavras



Á Senhora Stella

Da longa vida, ao final...
Manoel, o poeta, virou vegetal
e se plantou nesse mesmo solo
ao qual deu vida, junto de caramujos, ipês,
insetos, jacarés, araras, jabirus e sabiás...

Ele era mesmo da feitura de Barros
e à sua terra (pó), à sua letra (sopro)
literalmente retornou...

Ou, talvez, virou passarinho,
que alça asas adredes ao vôo
que se levanta do seu ninho de letras,
de fazedor de palavras,
de horizontes e de amanheceres...

O vaso de poemas pintou a natureza viva,
o livro de versos reescreveu a vida,
o nosso tuiuiú,
do jeito mais natural,
saiu da asa
e adentrou o azul celeste...
Foi confabular com as estrelas.
Ficar encantado junto de Guimarães Rosa
e Manuel Bandeira.

Nosso passarinho-poeta emoldurava as miudezas
em palavras odoríficas,
travestidas de bichos; eram palavras fertilizadas
nos pântanos das linguagens.

Na partida, ao romper o fio poético, vi raios e trovões
rasgarem as páginas do firmamento,
enquanto o meu corpo lírico estremeceu na terra.

...os beija-flores também adormecem,
mas as suas cores permanecem na retina,
iguais às vivas letras,
perenes, imortais em toda memória...

Ismael Machado
Poeta sul-mato-grossense