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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Ah! O Brasil, meu Brasil brasileiro!

                                               
O Brasil é ali, do outro lado da rua,
                          Onde tem uma mulher nua, dando referência a um dado senhor,
                              Lord, talvez (?!), quiçá um despudorado, vestido, travestido,
                                                              Do mesmo lado da rua.

                                O Brasil é aqui, onde canto e decanto este verso vadio,
                                        De quem se importa menos com o que parece
                                                     E mais com o que está despido.
                                                      O Brasil está dentro deste eu,
                                                  Ambos são essência, alma e pele. 

Fernando Bandeira

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Do livro Folhas de Março


A minha solidão está acompanhada de muitos “eus”.

Ismael Machado

Construções infelizes


Não vá sujar o branco papel
Nem com frases ou palavras.
Construções sem cabimento!
Também ninguém, quem terá
Culpa, de seu erro
Feito tormento?

Se errou, que importa?
Melhor é prosseguir...
Acertos, de erros
melhor se fazem.
Afinal, quem julgar poderá?
Certo não será o tal;
Não sem tisnar o branco papel.

Ismael Machado
Do livro Folhas de Março, 2006
(edição esgotada)

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Semana da Consciência Negra

  Alforria do Coração

 Ao negro fundador da Academia Brasileira de Letras,
Machado de Assis

Da cana-de-açúcar, ele refinado, nas mesas européias,
Branquinho, fez-se a causa primeira
da escura escravidão brasileira.

Tomé de Souza, D. Manuel III, (humanos?),
Autorizaram a vinda dos primeiros “negros da Guiné”,
Era o ano de 1532, vergonha iniciada,
página somente, parcialmente virada, após três séculos.
Será???......

Bravos negros, construíram, com trabalho escravo e raça,
O que os brancos escravocratas não conseguiriam em solo pátrio.

Não se pode falar, não se sentir, tamanha a dor nos porões
Dos negreiros navios, as chibatas serão pomadas a penetrar
Em suas peles coradas de saudades, angústias.
O banzo, as fugas, a sabotagem, o envenenamento dos senhores,
Os quilombos, constituíram os heróis da resistência,
Pois os guerreiros se multiplicaram, sobreviveram
aos horrores da escravatura.

Depois os quilombos serão numerosas cidades nossas.
O berimbau, o bongô e o atabaque forjam os ritmos afro-brasileiros:
Maracatu, frevo, timbalada e o nosso samba, sem igual.
Enquanto o vatapá, o caruru, o acarajé e a feijoada, iguarias nacionais,
Devem-se ao sabor da negritude.
Já a capoeira, misto de dança e luta, outrora punida com chibata,
Agora é exportada para a Europa. Os tempos mudam, as pessoas
às vezes morrem antes.

Lei Áurea, liberdade relegada à própria sorte. Mais de século depois
E a injustiça perdura, o desrespeito racial grita e não o ouvem
Os brancos e burgueses ouvidos do poder, os habitantes da
Casagrande, distantes das Senzalas que a Lei não aboliu.

Quisera alforriar alguns dos chamados “brancos”, a burguesia,
Da dureza de seus corações empedernidos.

Fernando Bandeira
Do livro: Folhas Brasileiras, 2010

domingo, 18 de novembro de 2012

A saga de escrever, de falar, de ser

Para Mae West

Tu queres a palavra?
E a palavra te quer?
Se queres mesmo
Tome-a, segure-a.
Lavrada em laudas soltas
Em bocas vazias, abertas, falantes
Ta dou.
Cuidado! Não a deixe cair,
Não a deixe quebrar, partir
Nem mais uma vez.
De mão em mão,
De boca em boca,
E papel em papel,
Vá seguramente passando.
Fugidia ela escapa
Pelos vãos dos dedos das mãos,
Por tudo perpassa
A todos aponta, acusa, ameaça.
Substantivada no feminino, feminista
Inveterada.
Poderosa, o adjetivo predileto.
A palavra é também pronome,
Preferentemente me, mi, comigo, eu.
Artigo: o, a, um, uma – bissexuada.
Advérbio, o seu jeito de ser e estar.
Também preposição, no sentido “literis”,
Posta de antemão.
Interjeição tantas vezes
E muito, muito mais. Não duvide
Ela faz reger, concordar
De forma verbal ou nominal.
Em ação a palavra transmuta-se
No Verbo: Falo.
Ela, criadora e criatura incriada.

Ismael Machado
(Poema premiado pela Editora da UFMS no III Concurso Literário: Lobivar de Matos. Publicado na Coletânea 
do referido prêmio e também no livro Folhas de Março, 2006).

domingo, 11 de novembro de 2012

Poema com o brilho do Quintana

O grilo procura
no escuro
o mais puro diamante perdido.

O grilo
com as suas frágeis britadeiras de vidro
perfura

as implacáveis solidões noturnas.

E se o que tanto buscas só existe
em tua límpida loucura

- que importa? -

isso
exatamente isso
é o teu diamante mais puro!


Mário Quintana

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Poemeto informatizado

Acessar o coração,
clicar o sentimento,
salvar o respeito,
“deletar” o ódio,
digitar a compaixão
e enviar a esperança
                                                       com o amor “on-line”.

                                            Fonte: livro Folhas Brasileiras, 2010.
           
                                                   

Parte IX de "O guardador de Rebanhos" - Fernando Pessoa

Sou o guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto
E me deito ao comprido da erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade.
Sei a verdade e sou feliz.

Alberto Caieiro (Fernando Pessoa)

domingo, 4 de novembro de 2012

O silêncio grita alto e em linguagem de nomenclatura própria

A linguagem do silêncio tem maior força de expressão que as muitas línguas que possamos falar.

Na quietude, que não é paz, o espírito discorre sobre vidas e fatos não apenas inusitados, mas sequer concebidos pela mente consciente, e por dentro e por fora vagueia esta fala interior, em que o próprio ser se trai analisando suas realidades inconscientes. É então travada imensa luta, uma guerra plena – sem palavras. E a mente, recorrente, atemporal, vai buscar Shakespeare, pra juntos repetirem velha questão vital: “To be or not to be?”

Sem respostas prossegue o silêncio, devorador, devastador, com suas ameaças e injunções perigosas, feito inimigo mor, iminente, presto a lançar mão de elocução felina, pra dizer-nos uma porção daquelas verdades que preferimos guardadas, escondidas, ou camufladas.

Acusa-se, e como réu, se condena, sem ao menos ter em conta que não se foi oficiado para tal.

Esse silêncio é o eu, pequeno ou grande, não importa, mas um eu despido frente ao espelho, ele mesmo, como é.

Quisera rir, o riso travou, chorar, gemido não tem, então busca-se rir e chorar num só tempo, onde morte e vida estão co’as mão dadas, dando-se a impressão de tamanha perplexidade ocidental.

E o silêncio, companheiro perfeito da solidão, cavalga terras desconhecidas dos "humanóides”, campos interiores muito vastos, nunca d’antes palmilhados.
Onde vai dar tal cavalgada? O que mais dirá este tudo e aparente nada?

Psiu!... Escuta. Será diálogo ou discussão a próxima fala?

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Grafismo do livro Folhas de Março

Uma fórmula na matemática da vida:
Quanto é independente de ti a tua felicidade
É o equivalente a tua infelicidade.

Canção amiga

“Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.”

                                                Carlos Drummond de Andrade